Em 2014, a internet móvel ainda representará apenas cerca de 2% do tráfego total da grande rede. A previsão faz parte de um estudo quantitativo sobre tráfego e serviços na internet — “Congestion Up Ahead? Internet traffic and service forecasts, 2010-2015” — com previsões até quatro anos adiante, elaborado pela empresa inglesa “Informa Telecoms & Media”.
A pesquisa cobre o uso de serviços internet e o tráfego na rede, incluindo uploads e downloads, abrangendo 20 categorias em oito regiões e 13 países, além de dados de receita em nove categorias de serviços. Os resultados foram divulgados anteontem em um “webinar” (seminário via web) apresentado pelo analista Giles Cottle.
O trabalho revela também que, apesar do frenesi em torno do crescimento da internet móvel, essa tecnologia não substituirá a banda larga fixa, mas sim será uma modalidade a mais de acesso à internet. Isso contraria as previsões de que a transição para o acesso móvel canibalizaria o acesso fixo. Dispositivos móveis se tornarão mais populares como equipamentos para navegar na web, ouvir música em streaming e enviar mensagens curtas. Mas o grosso do tráfego internet em residências continuará sendo via redes Wi-Fi caseiras.
Há tempos circulam rumores de que o tráfego internet em breve ultrapassará a capilaridade da rede, causando um congestionamento. Isso nada tem a ver com a iminente exaustão dos endereços internet, que não tem nada de boato, mas já tem solução planejada — a adoção de uma nova forma de endereçamento mais ampla, conhecida tecnicamente como IPv6. O congestionamento a que se referem os rumores é como se a rede fosse uma malha de tubulações d'água que de repente se entopem pelo excesso de líquido. E a conclusão do estudo é que não é tão tenebrosa a situação.
O tráfego internet global em 2015 será de 1,2 milhão de petabytes, cerca de sete vezes maior do que o atual. Crescendo à taxa de 47% ano a ano, a rede aumentará significativamente, mas num ritmo muito menor do que as previsões alarmistas têm feito pipocar na mídia.
Em 2010, o tráfego gerado por compartilhamento de arquivos ponto a ponto (conhecido como “P2P” — peer-to-peer) quase se equiparava ao gerado por vídeo on-line. Em 2011, o vídeo vai passar a frente nessa corrida e em 2015 representará mais de 50% de todo o tráfego da internet. O fluxo de dados na rede é, e continuará sendo por um bom tempo, dominado essencialmente por quatro tipos de serviço: vídeo, navegação na web, compartilhamento P2P e armazenamento/backup de arquivos.
Em 2015, o tráfego na rede vai se amoldar ainda mais do que hoje às configurações regionais de uso da internet. Na América do Norte, por exemplo, o forte será vídeo (80,1%), ao passo que na América Latina, o maior tráfego será de compartilhamento e armazenamento de dados (59,2%).
A despeito do maciço crescimento no tráfego internet, uma significativa parcela de usuários ainda estará assistindo vídeo em definição standard em 2015.
Hoje em dia, a grande maioria do tráfego mundial de vídeo é de conteúdo em SD (standard definition). Estima-se que em 2015, o número de streams de vídeo SD ainda será o maior. No entanto, em termos de tráfego, a previsão é de que será o primeiro ano em que o vencedor será o vídeo HD (high definition). Mas o vídeo HD só vai bombar mesmo for oferecido como opção automática pelos provedores e não como algo selecionável.
Quanto à transmissão de TV via internet, ela só começará a explodir a partir de meados de 2015, representando, em média, 20% do tráfego global, com consideráveis variações para cada mercado. É previsto um total de 380 milhões de internautas assistindo a TV via internet em 2015, com cerca de 50% dos usuários nos EUA e no Reino Unido desfrutando de vídeo on-line em algum equipamento do tipo “casa conectada”.
Em 2015, à parte a popularização do vídeo on-line, o armazenamento de dados na nuvem deverá ser o serviço de crescimento mais rápido na rede, e por dois motivos. O primeiro será a popularização de serviços como Megaupload e Rapidshare, típicos veículos de material pirata. E o segundo motivo é a popularização de serviços de backup automático, como o DropBox.
Com relação aos games, representarão um mercado de US$ 15 bilhões, com uma tendência de grande crescimento no tráfego, especialmente em função dos jogos na nuvem. O mercado de games se diferenciará ainda mais de maneira bem definida em função dos países-chave nesse mercado — EUA, Alemanha, China, Coreia e Japão.
A própria pirataria de conteúdo sofrerá uma drástica modificação na Ásia, deixando de ser uma atividade dependente de mídia física (CDs, DVDs etc.) e migrando fortemente para a modalidade on-line.
Quanto aos limites máximos de tráfico impostos pelas operadoras sobre usuários de banda larga (conhecidos como broadband caps), eles se tornarão um problema bem maior à medida que usuários medianos começarem a esbarrar neles, coisa que atualmente só incomoda aos chamados “power users” — usuários que fazem downloads compulsivamente.
Grande parte do crescimento do tráfego internet em 2015 será “passivo”, no sentido de que dependerá de fatores que não estão sob o controle do consumidor. Por exemplo, muitos usuários de telefonia estarão usando conexões de voz por VoIP (que representam considerável aumento no tráfego) sem terem a menor ideia de que isso estará acontecendo.
A pesquisa antevê que, até 2015, vídeo em dispositivos móveis não será algo tão impactante, isso em função de problemas com redes, tamanho dos aparelhos, direitos autorais e carência de bons modelos de negócios.